O patrimônio batalhense – Novo artigo de Cleiton Amaral
Quem leu o artigo de Padre Leonardo de
Sales admira, elogia ou o critica por ser um saudosista de tempos que
não irão voltar, dizendo que ele é uma pessoa fora do seu tempo. Será
isso mesmo?
O filósofo Francês “Michel de
Certeau”, ao referir-se sobre a relação existente entre tempo e
patrimônio, diz que se não conhecemos o passado, não nos sentimos
personagens da história presente, divididos entre a “amnésia e a vontade
de nada esquecer” perdidos em nosso próprio espaço, sem uma identidade
com nossos valores e significados.
Valores e significados que para o
povo Batalhense está no patrimônio arquitetônico da Igreja de São
Gonçalo e também na marca que fica na memória de cada um dos cânticos,
leituras e sermões que já leu, cantou e ouviu.
É o patrimônio das casas, praças,
avenidas, mas também o patrimônio das conversas, festas, leilões,
novenas que fazem reunir uma cidade como uma única família.
É o patrimônio que está nos livros e
documentos e também nas melodias das alvoradas, das brincadeiras de
carnaval, festas de agosto e dezembro, nos bate-papos da porta de casa e
dos bancos das praças.
É o patrimônio dos Casarões das
fazendas e, também, do rugir dos engenhos, dos aboios dos fazendeiros,
dos cantos de cordel, das histórias da “boquinha da noite”.
É o patrimônio natural do rio Longá,
do rio dos Matos, dos férteis brejos e também o patrimônio das
histórias de pescador, de vaqueiro, das lavandeiras, das visagens, dos
milagres.
Será, então, que Padre Leonardo de
Sales é uma pessoa fora do seu tempo? Afirmo, categoricamente, que NÃO.
Ele vive o presente exatamente porque tem consciência de um passado e
vislumbra um futuro num ambiente de paz e harmonia dentro do seu espaço e
junto com o seu povo.
Situação que deveria ser presente na
mentalidade de cada Batalhense a fim de não deixar que a nossa história
se perca. Conhecer o passado para termos consciência de que somos o
resultado de uma construção temporal, lógica. O que somos hoje ou iremos
ser no futuro tem um significado e um sentido que, só podemos guia-lo,
se tivermos consciência de que ele existe e somos personagens dele.
O mundo da tecnologia e da
globalização nos fascina com as novidades fazendo parecer, como no
carnaval, que somos uma única cultura universal. Embora seja inevitável
nos inserirmos nessa onda do global, não podemos esquecer de que somos
elementos de uma história comum compartilhada com nossos irmãos dentro
de um espaço, em um determinado tempo. Batalha possui essa envolvente
história e um patrimônio histórico quase infinito que sobrevive nas suas
casas, igrejas, fazendas, documentos e, principalmente, no povo
Batalhense.
Cleiton Amaral Rodrigues – Professor, Historiador e Mestre de Cerimônias.