“Em quem votar?” – Novo artigo de Padre Leonardo de Sales

Li com grande interesse a crônica do Carlinhos Magno, parabéns amigo pela sua crônica, e por não se calar, mesmo tendo todos os motivos para fazê-lo, pois você ocupa uma posição cômoda na sociedade batalhense, poderia aproveitar a sua situação privilegiada, e não se importar com os desmandos políticos, dados que como se diz por ai: “sempre foi assim”, parabéns, sobretudo pela coragem de se pronunciar, quando muitos optam pelo silêncio covarde e cúmplice, ou talvez porque seus míseros rendimentos mensais vêem, de salários minguadamente pagos pelo erário público e talvez temam represálias políticas, ou mesmo perseguições. Reitero minha admiração pela sua coragem e criatividade em relação aos temas abordados, sempre tendo o horizonte da sã Política como meta, e buscando ajudar na reflexão política e na conscientização de nosso povo.

Quanto a mim meu compromisso também é com a verdade, porém, a do Evangelho, e já prometi para mim mesmo que não vou me calar enquanto os desmandos se prolongarem, pelo visto minha tarefa é longa e talvez sem frutos, porém outra vocação minha é ser semeador e não faz parte do meu chamado colher os frutos, mais tão somente semear, então vamos lá, lançando sementes que fazem pensar bem a realidade, sem compromisso com partidos, mais com a Verdade e com a integridade. E faço isto, não com agressões, mais colocando a minha obscura e parca inteligência a serviço da Palavra escrita, mesmo recebendo às vezes o silêncio indiferente, que mata mais que a própria palavra ou que as agressões. Ler e simplesmente curtir um texto no Face book, com o dedo polegar  dizendo ok, sem ao menos se dar ao mínimo trabalho de escrever um comentário de duas linhas é se comprometer com a correria dos dias, ampliando a ferida que em nossas almas abriu esta época na qual vivemos,a chaga da pressa ou mesmo da indiferença.

Cada vez mais descubro que eu preciso da santidade das palavras, da técnica de com a Palavra, fazer pensar. Preciso de tudo isso. Mas não menos necessito da liberdade e do combate a toda a crueldade. Pois uma coisa não é nada sem a outra. E que ninguém me obrigue a escolher.

Concordo, com todas as letras com o pensamento que o Carlinhos abordou em sua crônica, partindo do poema de Carlos Drummond de Andrade: “Quadrinha”, feliz escolha e mais feliz ainda a comparação com a linhagem política atual do Piauí em evidência no cenário político partidário dessas eleições de 2014, e também como as de sempre.

Numa Democracia vergonhosamente entendida como vínculo empregatício e tendo como fundamento uma oligarquia parental, dificilmente o Piauí deixará de ser uma fazenda dos herdeiros do vício político da dobradinha Pai x Filho, cujo único objetivo é perpetuar a espécie de dominadores, que daria nojo a Charles Darwin, o pai da teoria da evolução; tudo isto num jogo espúrio de interesses pessoais, e, diga-se de passagem, tudo isto assistido e apoiado passivamente pela grande maioria da população. Que quero crer, como disse Jesus, no alto da cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lc 23, 34).

Não sabem por que não querem ou não querem saber. Sabem afinal de contas o que? Há muitos que não querem o que fazem e há muitos os que fazem o que não desejam querer. Há outros que fazem o mal querendo o bem e há outros que fazem bem, mesmo tendo que sofrer. Há uns que fazem só por fazer; há outros que fazem porque vêem nisso um sentido para se viver. Aqueles que fazem, achando que o seu fazer poderá levar a algum bem, mesmo que nisto possam errar, a esses o amor alcança. Porém, me engano seguramente, por que neste caso eles sabem exatamente o que estão fazendo, eleitores e candidatos, que num misto de interesses se vendem, onde a mercadoria mais barata, digo sem medo de errar é a barganha da própria consciência. Quando se sabe e se faz, mais culpa se tem, é este o caso de nossas eleições atuais.

Nas eleições, nós temos a chance de compor um time que, embora possa não alcançar o patamar da seleção sonhada, seja capaz de produzir avanços na superação urgente de graves problemas, como as questões urgentes da sociedade piauiense, nunca enfrentadas com seriedade. Para isso, é preciso contrabalançar elementos – trajetória, consistências pessoais, força de liderança, lastro de representatividade. Essas qualidades, e muitas outras, precisam ser observadas e identificadas nas pessoas que se submetem a si mesmo ao processo eleitoral.

Eleger políticos que não tenham o perfil dessas características acima elencadas; movidos simplesmente por sobrenomes de Famílias distintas ou por simpatia pessoal é contribuir para a composição de um quadro, nos governos e câmaras, sem lucidez no trato, na defesa e promoção de tudo que é público. Vale ressaltar que mediocridades são um veneno terrível que enterra definitivamente as aspirações de um eleitorado.

Bom seria contar com uma série de nomes cuja dificuldade de escolha residisse na excelência dos muitos perfis, todos sem exceções, com os elementos adequados da vida pessoal, social e política. Infelizmente não é assim, é um sonho ainda a ser realizado pelo nosso eleitorado. Abundam candidatos e faltam perfis, numa palavra quase não temos opção, diante disso temos que discernir a partir do pouco que temos!

Daí que nossa responsabilidade se agiganta, pois discernimento eleitoral não é simples emoção, simpatia ou antipatia, cor partidária, preferência por números, mero conhecimento ou amizade pessoal. O atual momento exige muito mais esforço de cada pessoa.

A crônica “Quadrinha”, do amigo Carlinhos foi concluída com uma expressão nascida na pena de Eça de Queiróz, um escritor não menos importante que o primeiro com que iniciou o seu texto. Concluo com este poema, real e critico de Elisa Lucinda, atriz e ativista social: Só de sacanagem!Não é de sacanagem que concluo com este poema, este é o nome do poema!

Meu coração está aos pulos

Quantas vezes minha esperança será posta a prova?

Tudo isso que está aí no ar

Malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro

Do meu dinheiro, do nosso dinheiro

Que reservamos duramente

Para educar os meninos mais pobres que nós

Para cuidar gratuitamente da saúde deles, dos seus pais

Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade

E eu não posso mais

Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?

É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz

Mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros

Venha quebrar no nosso nariz

Meu coração está no escuro. A luz é simples

Regado ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó

E os justos que os precederam: “NÃO ROUBARÁS” “Devolva os lápis do coleguinha”

“Esse apontador não é seu, minha filha”

Pois bem, se mexeram comigo com a velha e fiel fé do meu povo sofrido

Então agora eu vou sacanear. Mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!

Dirão: “deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba”

E eu vou dizer: “não importa, será esse o meu carnaval”. Vou confiar mais e outra vez

Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve. E receber limpo do nosso freguês.

Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético e o escambal

Dirão: “é inútil, todo mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”

E eu direi: “não admito, minha esperança é imortal”. E eu repito: “ouviram? IMORTAL”

Sei que não dá pra mudar o começo

Mas, se a gente quiser dá pra mudar o final!(Elisa Lucinda)

Pe. Leonardo de Sales