Soube, com enorme pesar, do falecimento da ilustre professora Matildes Castro Machado ocorrido no dia 08 de abril de 2014, aos 86 anos de idade. Por estes dias tenho andado muito ocupado aqui em Roma e, infelizmente, naquela ocasião não pude escrever uma crônica sobre a sua vida, e sobre a sua dedicação ao ensino e sua enorme contribuição à Educação de Batalha.
Dois sentimentos acompanham os meus agitados dias aqui em Roma. O primeiro uma grande tristeza, e o segundo a sensação de que em Batalha, não se atribui o verdadeiro significado a quem de fato o merece, na trajetória história dos dias que se correm.
Me explico melhor. Razão da minha tristeza: ter acompanhado as notícias da morte da professora Matildes, e me dá conta que só algumas notas de obituário, em alguns sites e uma missa de sétimo dia, parecem ter se encarregado de resumir as homenagens à dita professora. Não que a missa seja insignificante, longe disso, afinal das contas sou um sacerdote! Ou que as mensagens e presença de professores e alunos também seja insignificante, mas quero ir mais além!
Razão do meu segundo sentimento: a percepção da existência em Batalha de uma grande ingratidão para com as pessoas realmente significativas para o cenário público e social!
Imbuído desses dois sentimentos quero aqui prestar minha simples homenagem à nossa inesquecível professora Matildes!
Esta homenagem pode ser considerada como a forma mais nobre e carinhosa de pudermos lembrá-la, tendo em vista a sua importância na formação de tantas pessoas ao longo dos anos em que esteve presente no horizonte educacional de nossa cidade. Todos aqueles que tiveram a oportunidade de ter estado com ela em algum momento da vida, certamente têm o sentimento de ter aprendido com a “professora Matildes" como era conhecida.
Seja pela sua competente formação teórica e prática ou pela sua visão e caráter educacional, ou ainda, por sua distinta serenidade, fraternidade e sinceridade, reconhecemos, sem nenhum exagero, que ninguém conseguia sair ao menos tocado por suas reflexões.
Era uma educadora nata! Relembrá-la a partir da ideia que nenhuma escola exista em sua homenagem, deixa-me ainda mais triste e envergonhado!
No Japão o único profissional que não precisa reverenciar o imperador é o professor, quem dera no Brasil, e de maneira especial, em Batalha, chegue o dia em que o professor seja valorizado. Deveria ser uma glória para Batalha homenageá-la, porém, até agora não li nenhum artigo ou uma crônica inteligente vinda de nenhum professor ou alguém do mundo da Educação de Batalha.
Não seria esta também uma função do sindicato da categoria? Não basta reivindicar direitos, é necessário também executar deveres, e este sem dúvidas, é um dever que está passando despercebido pela entidade citada.
Por que escrevo esta crônica? Responderei no final!
Tal homenagem seria o reconhecimento a alguém que dedicou décadas ao ensino, num tempo que haviam condições precárias, tempo do quadro de giz, do Kichute, e de tantas precariedades, época em que os professores tinham em seu favor só a autoridade referente pelo ofício que realizavam.
São pessoas como essa que precisam ser reverenciadas, porque um povo sem passado é um povo sem memória e sem identidade.
Matildes Castro Machado nasceu aos 21 dias de outubro de 1927, de família tradicional de Batalha, muito cedo se enveredou para o mundo da Educação. Fazia parte de uma elite da Educação ao quilate da professora Maria Ducarmo Melo, Maricota, e tantas outras que marcaram décadas a Educação, seja como professora na Escola Conselheiro Saraiva ou como diretora do Colégio Gayoso e Almendra, na época dos glamourosos desfiles cívicos do dia sete de setembro, que marcaram época em nossa terra.
Não fui seu aluno, contudo, os que foram dão testemunho de sua competência e exigência, primava pela exigência, pela pedagogia exemplar, clareza de conteúdos e aplicação de seus alunos.
A sua contribuição foi decisiva para a formação de centena de jovens, ao longo de anos de trabalho. O nome da professora Matildes passa a simbolizar a dedicação e o empenho pela nossa Educação! Matildes, ajudou a educar Batalha!
Em Batalha à época onde o tempo escorria preguiçoso, tempo das cadeiras nas calçadas por volta do cair da tarde à espera do vento da Parnaíba, aquela brisa, que os antigos juram de pés juntos, que vem do mar mesmo que estejamos a mais de 100 km do Atlântico era possível ver as três solteironas: Conceição, Teresinha e Matildes, sentadas tomando uma fresca e contemplando a beleza do "quadro da Igreja", tendo ao centro a bicentenária matriz de São Gonçalo.
Recordo-me muito dessa cena. Matildes era a mais vaidosa, dado que também era a caçula das "delocadas", ou seja as filhas de "dona Deloca".
Sugiro aos vereadores, que façam perpetuar a memória da professora Matildes com o nome de uma rua, ou mesmo de uma escola, que seria o mais plausível, tendo em vista ela que fora uma grande educadora! Sob o peso de eles não contribuírem para que os heróis e benfeitores deste município não sejam lembrados nem honrados justamente!
Que seu nome possa inspirar todos aqueles que passarão por essa nova escola, ou rua. Que todos aqueles que se sentirem curiosos em saber quem foi a pessoa que deu nome ao lugar por onde passam ou a escola onde estudam, ali possam ter a certeza que aquele nome evoca alguém que, durante toda a vida, lutou arduamente pela Educação e, passa a ser uma referência necessária quando falarmos sobre Educação em nossa terra.
Alguém que, verdadeiramente, não fez da profissão um lugar de lucros desmedidos, mas um sacerdócio lampejante de sabedoria, e dedicação a uma causa.
Ataúlfo Alves, grande intérprete e letrista num belo samba canção de 1956, imortalizou numa obra prima, chamada "Meus tempos de criança" quando todos nós tivemos uma professorinha querida, versos de grande beleza: "Eu daria tudo que eu tivesse!Pra voltar aos dias de criança.Eu não sei pra que que a gente cresce!Se não sai da gente essa lembrança.Que saudade da professorinha que me ensinou o bê-a-bá". Parafraseando o sambista mineiro, cantor do rádio, possamos também nós dizermos: Saudades professora Matildes é o que a nossa memória sempre nos evocará ao lembrarmos de seu nome!
Obrigado em nome de todos aqueles que talvez nem souberam de sua morte, e também por aqueles que lhes são gratos por ter sido talvez a sua mão agora sepultada no silêncio da terra, onde aguarda a Ressurreição; aquela mão que sobre tantas mãos encaminhou no traçado das primeiras letras, ou no balbuciar dos primeiros números, tantos meninos e meninas sedentos do saber e da instrução! E, ainda obrigado por dirigir com sua competência e sabedoria a Escola Gayoso e Almendra. Por fim, obrigado por aliar à sua autoridade discreta e por vezes rígida, quando necessária, por ter guiado pedagogicamente a Educação num tempo de precariedade material, mais de grande moralidade nas causas nobres como a Educação de uma comunidade!
Por que escrevi esta crônica?
Certamente pelo motivo pelo qual tento reviver as memórias, de minha aldeia, (Batalha) com medo que a minha memória e a memória de meu povo, em minha época, fique perdida pelo tempo e pelo ingrato esquecimento, pois educar é uma obra de amor!
Pe. Leonardo Sales
Dois sentimentos acompanham os meus agitados dias aqui em Roma. O primeiro uma grande tristeza, e o segundo a sensação de que em Batalha, não se atribui o verdadeiro significado a quem de fato o merece, na trajetória história dos dias que se correm.
Me explico melhor. Razão da minha tristeza: ter acompanhado as notícias da morte da professora Matildes, e me dá conta que só algumas notas de obituário, em alguns sites e uma missa de sétimo dia, parecem ter se encarregado de resumir as homenagens à dita professora. Não que a missa seja insignificante, longe disso, afinal das contas sou um sacerdote! Ou que as mensagens e presença de professores e alunos também seja insignificante, mas quero ir mais além!
Razão do meu segundo sentimento: a percepção da existência em Batalha de uma grande ingratidão para com as pessoas realmente significativas para o cenário público e social!
Imbuído desses dois sentimentos quero aqui prestar minha simples homenagem à nossa inesquecível professora Matildes!
Esta homenagem pode ser considerada como a forma mais nobre e carinhosa de pudermos lembrá-la, tendo em vista a sua importância na formação de tantas pessoas ao longo dos anos em que esteve presente no horizonte educacional de nossa cidade. Todos aqueles que tiveram a oportunidade de ter estado com ela em algum momento da vida, certamente têm o sentimento de ter aprendido com a “professora Matildes" como era conhecida.
Seja pela sua competente formação teórica e prática ou pela sua visão e caráter educacional, ou ainda, por sua distinta serenidade, fraternidade e sinceridade, reconhecemos, sem nenhum exagero, que ninguém conseguia sair ao menos tocado por suas reflexões.
Era uma educadora nata! Relembrá-la a partir da ideia que nenhuma escola exista em sua homenagem, deixa-me ainda mais triste e envergonhado!
No Japão o único profissional que não precisa reverenciar o imperador é o professor, quem dera no Brasil, e de maneira especial, em Batalha, chegue o dia em que o professor seja valorizado. Deveria ser uma glória para Batalha homenageá-la, porém, até agora não li nenhum artigo ou uma crônica inteligente vinda de nenhum professor ou alguém do mundo da Educação de Batalha.
Não seria esta também uma função do sindicato da categoria? Não basta reivindicar direitos, é necessário também executar deveres, e este sem dúvidas, é um dever que está passando despercebido pela entidade citada.
Por que escrevo esta crônica? Responderei no final!
Tal homenagem seria o reconhecimento a alguém que dedicou décadas ao ensino, num tempo que haviam condições precárias, tempo do quadro de giz, do Kichute, e de tantas precariedades, época em que os professores tinham em seu favor só a autoridade referente pelo ofício que realizavam.
São pessoas como essa que precisam ser reverenciadas, porque um povo sem passado é um povo sem memória e sem identidade.
Matildes Castro Machado nasceu aos 21 dias de outubro de 1927, de família tradicional de Batalha, muito cedo se enveredou para o mundo da Educação. Fazia parte de uma elite da Educação ao quilate da professora Maria Ducarmo Melo, Maricota, e tantas outras que marcaram décadas a Educação, seja como professora na Escola Conselheiro Saraiva ou como diretora do Colégio Gayoso e Almendra, na época dos glamourosos desfiles cívicos do dia sete de setembro, que marcaram época em nossa terra.
Não fui seu aluno, contudo, os que foram dão testemunho de sua competência e exigência, primava pela exigência, pela pedagogia exemplar, clareza de conteúdos e aplicação de seus alunos.
A sua contribuição foi decisiva para a formação de centena de jovens, ao longo de anos de trabalho. O nome da professora Matildes passa a simbolizar a dedicação e o empenho pela nossa Educação! Matildes, ajudou a educar Batalha!
Em Batalha à época onde o tempo escorria preguiçoso, tempo das cadeiras nas calçadas por volta do cair da tarde à espera do vento da Parnaíba, aquela brisa, que os antigos juram de pés juntos, que vem do mar mesmo que estejamos a mais de 100 km do Atlântico era possível ver as três solteironas: Conceição, Teresinha e Matildes, sentadas tomando uma fresca e contemplando a beleza do "quadro da Igreja", tendo ao centro a bicentenária matriz de São Gonçalo.
Recordo-me muito dessa cena. Matildes era a mais vaidosa, dado que também era a caçula das "delocadas", ou seja as filhas de "dona Deloca".
Sugiro aos vereadores, que façam perpetuar a memória da professora Matildes com o nome de uma rua, ou mesmo de uma escola, que seria o mais plausível, tendo em vista ela que fora uma grande educadora! Sob o peso de eles não contribuírem para que os heróis e benfeitores deste município não sejam lembrados nem honrados justamente!
Que seu nome possa inspirar todos aqueles que passarão por essa nova escola, ou rua. Que todos aqueles que se sentirem curiosos em saber quem foi a pessoa que deu nome ao lugar por onde passam ou a escola onde estudam, ali possam ter a certeza que aquele nome evoca alguém que, durante toda a vida, lutou arduamente pela Educação e, passa a ser uma referência necessária quando falarmos sobre Educação em nossa terra.
Alguém que, verdadeiramente, não fez da profissão um lugar de lucros desmedidos, mas um sacerdócio lampejante de sabedoria, e dedicação a uma causa.
Ataúlfo Alves, grande intérprete e letrista num belo samba canção de 1956, imortalizou numa obra prima, chamada "Meus tempos de criança" quando todos nós tivemos uma professorinha querida, versos de grande beleza: "Eu daria tudo que eu tivesse!Pra voltar aos dias de criança.Eu não sei pra que que a gente cresce!Se não sai da gente essa lembrança.Que saudade da professorinha que me ensinou o bê-a-bá". Parafraseando o sambista mineiro, cantor do rádio, possamos também nós dizermos: Saudades professora Matildes é o que a nossa memória sempre nos evocará ao lembrarmos de seu nome!
Obrigado em nome de todos aqueles que talvez nem souberam de sua morte, e também por aqueles que lhes são gratos por ter sido talvez a sua mão agora sepultada no silêncio da terra, onde aguarda a Ressurreição; aquela mão que sobre tantas mãos encaminhou no traçado das primeiras letras, ou no balbuciar dos primeiros números, tantos meninos e meninas sedentos do saber e da instrução! E, ainda obrigado por dirigir com sua competência e sabedoria a Escola Gayoso e Almendra. Por fim, obrigado por aliar à sua autoridade discreta e por vezes rígida, quando necessária, por ter guiado pedagogicamente a Educação num tempo de precariedade material, mais de grande moralidade nas causas nobres como a Educação de uma comunidade!
Por que escrevi esta crônica?
Certamente pelo motivo pelo qual tento reviver as memórias, de minha aldeia, (Batalha) com medo que a minha memória e a memória de meu povo, em minha época, fique perdida pelo tempo e pelo ingrato esquecimento, pois educar é uma obra de amor!
Pe. Leonardo Sales