Homilia de encerramento jubileu‏ – Pe. Leonardo de Sales

Saúdo-vos e agradeço-vos, amados irmãos e irmãs na fé, e no amor a este lugar, pela Igreja que somos. Estou com o coração pleno de alegria e com alma em festa por esta ocasião, voltar a minha terra e como sacerdote, proferi esta homilia nesta ocasião tão importante!

Reúne-nos nesta memorável tarde-noite no adro desta igreja a celebração de enceramento dos festejos do Glorioso São Gonçalo de Amarante e a não menos importante conclusão da festa do jubileu dos 200 anos da construção de nossa matriz!

Celebramos, com alegria e gratidão, este dia, quando há 200 anos, em 1814, numa placa no alto da torre postergava ao futuro a intuição de um grupo de portugueses que para edificarem a sua presença entre nós, pensaram logo em edificar uma Igreja, um templo, sinal visível de sua fé, de filhos da Igreja Católica, num contexto de colonização sem dúvidas, porém, faziam algo que estava para além de suas intenções, algo que se projetaria nos tempos. Escolheram este local para aqui erguer uma casa de oração, estabeleceram a sua sede e construíram a bela matriz de São Gonçalo! Sonharam com um “lugar síntese” das riquezas e do jeito de ser do povo batalhense para de lá recolher todas as lágrimas e alegrias de sua história: alto da matriz.

Hoje, 1º de janeiro de 2015, após  um ano de alegre e entusiástica celebração jubilar estamos aqui para agradecer a Deus por esta história de amor por nós!  Eu os convido todos a olharem por um instante a torre da matriz! Aqui se ergue a Torre, a mais alta e a mais bela, como Torre padroeira da Cidade de Batalha a apontar o Céu e a iluminar a Terra.

Ao olhar para a Torre da velha matriz, a Cidade vê-se melhor a si mesma. Ao subir à Torre, sonho de todo menino que nasce nestas terras, vê-se melhor, a partir do alto, o Mundo que nos rodeia. Ao entrar na Igreja agora bicentenária encontramo-nos com Deus e descobrimos como Deus nos ama, nos acolhe, nos fala e está presente no coração da Cidade da Batalha e na vida dos batalhenses.

Nossa origem vem de idos tempos, nascemos quando ainda nem existiam dioceses no Piauí, a 03 de junho de 1854, nascia nossa Paróquia, éramos ligados ao bispado de São Luís do Maranhão. Chegamos com a graça de Deus aos 160 anos de Paróquia e vivemos desde 2013 o bicentenário do nosso templo.

Vimos de longe. De longe, na história desta Igreja, a que o tempo deu tons e cores, formas e espaços, em vidas oferecidas por inteiro a Deus para servir o mundo. Queremos fazer memória de todos quantos nos legaram, em herança, o dom da fé e trilharam antes de nós o caminho do anúncio do Evangelho.

Recordo, hoje, e rezo por todos os que serviram e amaram a Igreja de Batalha.

Muitos pastores ilustraram nestes 200 anos o solium paroquial da Batalha. Os primeiros foram trazidos pelas caravelas portuguesas “tem – se notícias dos Padres Antônio Sampaio e Francisco Borges, em meados de 1797; Padre Francisco Borges, em 1803; Padre Domingos Dias Pinheiro, em 1804; Padre José Pontes de Menezes, em 1817; e os italianos Freis Apollônio de Mollineto e Lourenço do Monte Leone, “em incursão pela Serra da Ibiapaba passaram 21 dias pregando o Santo Evangelho de Deus” em terras batalhenses (in: Cartas Avulsas – caixa 2 – Poder Executivo – Arquivo do Piauí).

Não disponho de elementos históricos o suficiente para descrever os pormenores da história de nossa igreja, há pouca literatura, e dos poucos resquícios documentados devemos gratidão eterna ao historiador Milton Filho, nosso saudoso Miltinho, cuja paixão por esta terra de São Gonçalo, saia pelos olhos.

Esta igreja foi construída no período de 1794 a 1814, com auspícios financeiros do Coronel José de Miranda (natural da freguesia de São João Batista, Arcebispado de Braga – Portugal, filho de João de Miranda e Mariana Almeida. Veio de Portugal para a casa de seu tio, o capitão – mor Antônio Carvalho de Almeida, em Parnaíba.

O primeiro Pároco de nossa matriz só chegou aqui 40 anos depois “Com a sanção da Lei do governo da Província do Piauí, somente em 1854, foi instalada a Freguesia, com o reconhecimento do templo de Batalha como Casa de Oração, em 3 de junho daquele ano e, em 20 de agosto toma posse o primeiro vigário oficial, o Padre Antônio Simões de Moura, que apesar de tão fugaz governo teve o mérito de  implantar com sabedoria o arcabouço da administração paroquial.

A história preferiu gravar no coração de Deus o nome de tantos sacerdotes que passaram por esta paróquia cujos registros históricos são precários.

A história das letras no Piauí se recordam do Pe. Cirilo Chaves Soares Carneviva, inteligência aliada à capacidade que brilhou no clero piauiense até a década de 1930, que passou por estas terras também.

No período pré-conciliar, ou seja, antes de 1962, nossa paróquia fora confiada aos frades franciscanos capuchinhos, como deixar de mencionar ainda que de forma precária nomes que ficaram na memória de nossos pais tais como: Frei Conrado Maria de Palmásia, Frei João Francisco, Frei Solano, Frei Bruno, Frei Gregório, todos homens de cultura e de elegância espiritual e também Frei Serafim, que pela sua importância na evangelização da capital, a avenida principal de Teresina, leva seu nome.

Nomes como o do Pe. Antônio José Vieira não pode ser esquecido nesta festa, com ele recordamos também os padres: Oséias de Mesquita, Pe.Coutinho, Pe. Uchôa, Pe. Alencar.

Os que são mais velhos se recordam com gratidão do Padre Joaquim Guimarães, empreendedor que eletrizava a pequena cidade de Batalha, com suas iniciativas inéditas para a época.

Padre Sabino Dantas até hoje recordado, pois a ele se deve a letra do hino de São Gonçalo, que até hoje nos emociona e eleva nosso coração ao Céu!

Na linha dos 200 anos de história recordamos ainda a figura de ombros magros e altos do Pe. Francisco Bossuet de Sales vindo das terras de Buriti dos Lopes, silencioso e perspicaz, tem ele a glória de idealizar a construção de uma casa paroquial para acolher os futuros padres que por aqui a providência enviasse!

Sucedeu-lhe na condução do governo paroquial o Pe. Lotário Weber que chegou ao Brasil em 1963, em plena realização do Concílio Vaticano II, quando o sopro do Espírito de Deus soprava ventos novos sobre a Igreja e sobre a humanidade.

Pe. Lotário chegou à Batalha no dia 3 de agosto de 1982 para onde viera para ficar apenas um mês, e terminou ficando quatro anos, e, encontrou na Paróquia de São Gonçalo, uma realidade obsoleta, sem estrutura de vida paroquial, sem comunidades organizadas, sem ter pelo menos uma casa decente para o padre morar, o que ele rapidamente com zelo e com a colaboração de seus amigos e benfeitores alemães logo providenciou; organizou a vida pastoral, dinamizando as celebrações, atraindo os jovens, construindo centros catequéticos, quem não se lembra da catequese com slides, uma inovação para época, desenvolveu projetos sociais para socorrer os pobres e necessitados, tais como o marco de sua presença em Batalha o conjunto habitacional “Vila Kolping”, organizando e criando pastorais, dando grande assistência à zona rural, construindo capelas, investindo na formação dos leigos, no seu tempo o grupo de acólitos chegou ao número de 50 meninos, encaminhou jovens para a vida religiosa, além de convidar e favorecer a vinda das irmãs Filhas de Sant’ana para Paróquia de São Gonçalo. A ele eu devo a graça do meu Batismo, sob a minha cabeça no dia 30 de setembro de 1976, fazia deitar a água do Batismo, primeiros germes de minha vocação sacerdotal!

Na brevidade dessa homília não poderei, nem pretendo resumir a ação pastoral do querido Pe. Lotário Weber, mas tão somente quero ser grato pela sua passagem pela nossa Paróquia nesta ocasião em que fazemos memória dos rastos deixados pelos homens de Deus que governaram esta paróquia ao longo destes 200 anos de história.

Para dar continuidade ao trabalho pastoral o bispo da diocese de Parnaíba, dom Edivaldo Gonçalves do Amaral nomeou o Pe. Francisco de Assis Araújo Pinto viera das terras da Parnaíba de Nossa Senhora da Graça, alma forte em corpo frágil e delicado, zeloso apóstolo que conduziu por duas gestões a nossa paróquia, quem privava de amizade com ele sentia o inextinguível zelo nas coisas de Deus, implantou novos grupos de pastorais, fez adaptações na administração paroquial, conduziu o último projeto de restauração da imagem barroca de nosso padroeiro, São Gonçalo com auxílio da administração municipal de então, suas homilias até hoje ecoam nos telhados de nossa matriz, pequenino, frágil e doente, mas grande de alma e valente na defesa do Evangelho.

Deu grande ênfase ao trabalho pastoral, incentivou a formação dos leigos, é impossível entrar na igreja matriz e não se recordar do Pe. Pinto, pois a gruta dedicada a Nossa Senhora de Lourdes, tem o dedo de sua arte e de engenho, destacou-se ainda como grande professor!

Outro importante sacerdote que não pode ser esquecido foi Pe. Marlos Vieira Borges, nascido nas terras da Piracuruca, veio para Batalha, recém ordenado, aqui fora enviado por dom Joaquim Rufino do Rego, aqui foi a sua primeira paróquia. Jovem, silencioso, e pacato fez muito pela catequese com o apoio do casal missionário alemão Maria e Bernardo, a quem também devemos muito, cuja memória não pode ser esquecida nestes 200 anos.

Seria esta homilia incompleta se nela não fizesse menção agradecida ao querido, inesquecível e não menos incompreendido Pe. João Ladislau da Silva, profeta em tempos de urgência e testemunho da justiça do Evangelho nas terras de Nossa Senhora da Boa Esperança, quantas e quantas vezes não coube a este sacerdote solícito socorrer a nossa paróquia em tempos de carência de padres, nos festejos, semanas santas, ocasiões especial da vida paroquial, encontramos sempre nele um apoio incondicional, obrigado Pe. Ladislau pelo seu testemunho!

A nossa viagem na história continua agora com este 2º padre alemão o Pe.Wolfgang Johannes Hermann, nascido na cidade Bad Kreuznach em 14/05/1960, fora ordenado sacerdote para a diocese alemã de Trier em 1985, com 25 anos de idade, aqui em nossa paróquia fez muito, mais que construir espaços físicos, ajudou a edificar pessoas, sobretudo, os jovens a quem tinha grande amor pastoral, eu mesmo fui apoiado por ele e sua família  nos estudos do Seminário.

Dele alguém assim escreveu no blog da paróquia em 11 de abril de 2010 “Em sua missão na Paróquia de São Gonçalo procurou sempre fortificar todas as pastorais, depositando muita confiança e autonomia administrativa para os leigos. Tinha sempre respostas para todos os tipos de assunto, seja bíblico, científico, cotidiano. Seus sermões eram um destaque à parte nas Missas. Era tecnomaníaco, pois estava sempre à frente do nosso tempo e ligado às novas tecnologias.

Marcou a nossa paróquia na celebração do Grande Jubileu do ano 2000, com o projeto “arruma a mala, fora assassinado cruel e covardemente em Belém do Pará onde trabalhava, porém a sua memória será imorredoura que o diga nosso querido Nonato Silva, Reinaldo, Pe. Manuel, Wolder, Salatiel, Dudu da Madalena,e tanto outros cuja caridade não recorda os nomes, e sem dúvidas, eu mesmo! Obrigado Pe. Wolfgang receba no céu nossa admiração e reconhecimento pela sua passagem na história dos 200 anos da igreja de Cristo que está em nossa terra!Um dia nos encontraremos no céu!

Na sucessão do Pe. Wolfgang é nomeado o Pe. Evanilson, cearense, da terra do Quixadá, fez uma administração rápida e sem registros históricos que façam elevar a sua figura, ele assim como o Pe. Mário Menezes ficaram na memória desta paróquia como homens que não compreenderam o projeto da continuidade histórica das coisas, este último Pe. Mário Menezes, conduziu de forma errônea o projeto de adaptação da igreja paroquial às novas regras litúrgicas, nascidas do Concílio vaticano II, toda a destruição da beleza artística se deve à sua falta de sensibilidade, se hoje não temos conservada a nossa bela igreja barroca, se agradeça a ele e aos leigos de então que foram omissos na defesa do nosso patrimônio, a morte não canoniza atos irreparáveis, a eles o nosso respeito mas, também a nossa justiça histórica!

A história é dinâmica e criativa, segue seu curso apesar da mazelas humanas, Deus age na história e nas pessoas. Assim, chega à Batalha, mais um filho de Buriti dos Lopes, desta fez um jovem sacerdote, inteligente, estudara em Roma, esperto nas Sagradas Escrituras, trata-se da figura doce e magra do Pe. Clodomiro, que permaneceu pouco tempo, mas a durabilidade do tempo é precária, quanto se trata de lembranças, não se deixa vencer pela quantidade, mas pela qualidade, assim até hoje é fácil encontrar fiéis que tem ligação com este sacerdote ou que se recordam de sua passagem por estas terras de São Gonçalo!

Quis a história que o sucessor do Pe. Clodomiro, fosse um contemporâneo seu, o Pe. Bernardo, homem simples, apaixonado pela juventude, com uma visão de Igreja libertadora, durante o seu governo paroquial fez a organização das comunidades rurais de nossa paróquia, com as chamadas regiões pastorais, algo que deu certo, zeloso na pregação, atraiu muitos jovens para o a vida missionária da igreja local e com ele vivemos grandes temas missionários das festas de nossos padroeiros, tímido ao extremo, porém, acolhedor e de grande cultura teológica, primou pela paixão a uma causa, a ele o nosso respeito e admiração!

O bispo diocesano Dom Alfredo Schafer envia após um ano e cinco meses na Paróquia Nossa do Carmo em Piracuruca, para exercer o novo ofício de administrador paroquial da Paróquia São Gonçalo em Batalha, o jovem sacerdote Evandro Alves da Silva, o ano era 2009 e o dia o livro de tombo da velha matriz registra como sendo 07 de fevereiro.

Chegava à terra de São Gonçalo, um jovem sacerdote tímido e sem saber por onde começar, pois o campo era vasto e o trabalho imenso, consciente de seus limites e fraquezas, mais também cheio da pujança de sua juventude, o neo-levita é desafiado por todas as partes, fora nomeado para pastorear uma paróquia histórica, complicada e pobre de recursos, consola o coração do novo pastor a expressão viva da Fé do povo de Deus a ele confiado, pelo pastor dos pastores, Cristo Senhor!

Recebera o encargo de conduzir um rebanho imenso, comunidades pipocantes por todos os lados, distâncias enormes a serem percorridas, grupos, pastorais e movimentos diversos que necessitam ser revitalizados, pobreza dos meios de evangelização, veículo precário, como se deslocar para o serviço às ovelhas espalhadas pela extensão desse imenso rebanho? Perguntava-se o recém chegado padre, as perguntas eram mil, as repostas, zero! Aos poucos o Espírito Santo, vai apontando iniciativas, sugerindo caminhos e iluminando propósitos, não faltara a sua luz na condução de sua missão!

Não pretendo nesta homília esgotar os feitos do pastoreio do Pe. Evandro, ao longo destes cinco anos e seis meses, mas tão somente, provocar na comunidade gestos de gratidão a Deus pela passagem benfazeja deste servo de Deus entre nós, que cada um possa render graças ao Senhor por tudo o que foi feito!

Pe. Evandro mil obrigado ao senhor, pela sua passagem por Batalha, ela deixará marcar eternas entre nós, Deus recompense seu cansaço, suas noites sem dormir, seus anos passados entre nós, seu envelhecimento, seus cabelos brancos adquiridos antes da idade, pelo trabalhão que algumas ovelhas lhe deram, abençoe sua dedicação, sua coragem, enfim tudo o que fez, e que faria novamente com certeza, pela nossa comunidade paroquial.

A providência de Deus tem seus planos, que nenhuma inteligência ou plano humano pode sondar, assim quis a mesma providência que o encerramento desta festa jubilar recaísse sobre os ombros do Pe. Oscar do Nascimento Almeida, vindo das terras cearenses do Tianguá, recém chegado a esta Paróquia a ele cabe na criatividade do Espírito conduzi este rebanho bicentenário ao colo do Bom Pastor, cuidando para que nenhuma das ovelhas que lhe foi confiada se perca! Obrigado por aceitar o convite de está á frente de nossa paróquia e conduzir a conclusão deste jubileu. O que o senhor traz nas mangas da batina para o crescimento deste povo ainda não o sabemos, o tempo o dirá!

E hoje como somos quem é a Paróquia de São Gonçalo?

Vimos de longe. De longe, na diversidade das 86 comunidades, que constituem a nossa paróquia,

uma Igreja organizada, fruto do trabalho de muitos pastores zelosos e dedicados, estamos organizados em sete regiões pastorais, cinco setores urbanos, uma igreja que desponta para a missão, jovens engajados, temos a presença enriquecedora entre nós de uma comunidade religiosa, as Irmãs Filhas de Sant’Ana, dinâmicas e empenhadas na pastoral paroquial, inúmeros leigos que se empenham na ação evangelizadora, pedras vivas da Igreja, espalhados pelos 1.588,901 km, que compõe a nossa extensão territorial somos  25.774 habitantes, dos quais a maioria é maciçamente católico, o que não significa dizer que todos vivem segundo o Evangelho de Jesus, e os ensinamentos da Igreja, daí a sua imensa responsabilidade de nossa paróquia ajudá-los a fazer a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo!

Somos ricos em espiritualidade, amamos Nossa Senhora, a ela dedicamos 11 dos 31 dias do mês de agosto, quando fazemos uma bela festa em honra de Nossa Senhora de Lourdes.

Amamos também os santos e procuramos imitá-los, apesar de nossas misérias e limites, em todo o Piauí, somos conhecidos como a Terra de São Gonçalo, de fato, temos grande admiração por este ícone da Igreja portuguesa, que se tornou nosso padroeiro, o amamos muito!

Demos graças a Deus, que aqui nos conduziu e aqui nos congrega, à volta do mesmo e único altar da Eucaristia. A vida humana é uma viagem. E a vida das comunidades é um caminho no horizonte imenso da história, em cada tempoe em cada lugar. Assim acontece conosco, em nossa Igreja de Batalha.

Uma hora de gratidão

Na memória do tempo são muitos aqueles a quem devemos agradecer nestes 200 anos de história de nossa Igreja pelo bem que aqui se realizou em tantas vanguardas de missão da Igreja e por quantos o realizaram no decurso do tempo.

Hoje queremos rezar por todos e a todos lembrar. Mas hoje devemos também agradecer. Quero agradecer igualmente a todos sem citar nomes que se envolveram na celebração deste grande jubileu, cujos frutos estamos ainda por colher, mas que virão com certeza!

Esta celebração destina-se particularmente a vós. Aqui deixais para os séculos vindouros as marcas indeléveis do vosso talento, da vossa arte, do vosso trabalho honesto e dedicado. Convosco oferecemos melhor a Deus e colocamos no altar da Eucaristia os bens da terra e o fruto abençoado do vosso trabalho, para que juntos ao pão e ao vinho se transformem para nós em Pão da Vida e Vinho da Salvação.

A hora é de gratidão a Deus, que sempre nos acompanhou neste caminho de dois séculos; de gratidão a Maria, Mãe da Igreja, Senhora de Lourdes, nossa  Co-Padroeira, que nos faz testemunhas deste modo terno e materno de ser Igreja; de gratidão a quantos se entregam por inteiro à causa de Jesus e ao serviço da Igreja, em Batalha.

Um olhar para o futuro

Esta celebração, assim vivida, diz-nos que esta hora é advento do tempo futuro. “O cristão tem de fixar o seu olhar na realidade do futuro”. Com os pés assentes na terra, vivemos a esperança como certeza duma longa e bela experiência já feita e como desejo, diariamente renovado, de responder aos desafios do tempo presente.

Foram, no decurso do tempo, e serão sempre prioridades da Igreja de Batalha: o anúncio do evangelho, a celebração dos mistérios da nossa fé, a presença transformadora no meio do mundo, a acolhida alegre e a vida de nossas comunidades, a recepção dos sacramentos!

Ouvimos no Evangelho (Mc 8, 27-35)  como convém lembrar. Naquele diálogo entre Jesus e os seus discípulos, naquela afirmação de Pedro e na resposta do Mestre desvendado, renasceu o “templo”, transformado agora em Igreja de pedras vivas e congregadas pela mesma fé confessada. A Igreja nasce assim, com os que respondem com o apóstolo: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo!”. A Igreja cresce também, no alargamento desta certeza, que o próprio Pai infunde pelo esclarecimento do Espírito.

A partir daqui, tanto padres como Religiosos ou Leigos, temos os indicadores para realizarmos, em conjunto, o mesmo projeto: uma Igreja que privilegia a verdade, que não faz conluios na madrugada, nem se cala diante das atrocidades cometidas sejam por quem quer que seja, mas prima pela fraternidade e a comunhão; uma Comunidade que acolhe, procura e anima quem anda perdido e abraça aqueles que encontra; uma Paróquia que não faz acepção de pessoas mas que, na justiça, privilegia os pequenos, os mais carentes, os mais pobres de amor, de companhia, de saúde e de pão.

Os grandes homens e as grandes mulheres – também os Santos – não se perdem em coisas menores, mas vivem, testemunham e anunciam o essencial. Com as virtudes narradas de sua vida São Gonçalo de Amarante aponta o essencial à nossa comunidade paroquial de quem ele é patrono, e convida-nos a construir, com profundidade, o nosso caminho missionário deste tempo novo, e a superar crises freqüentes nas relações entre pessoas. Aponta-nos a Fé, a Esperança e o Amor que procedem da paternidade divina.

É tempo de anunciar às pessoas o verde da esperança sobrenatural aos corações ressequidos de tanta gente que sendo embora religiosos não experimentam que o céu existe, mesmo que Deus não é uma idéia abstrata e inconsistente, mas a fonte de toda a realidade. É tempo de passarmos de um cristianismo reduzido tantas vezes a praticas religiosas inconseqüentes, de uma doutrina que mal se conhece e uma moral que os pagãos consideram desumana, é tempo de passamos de um cristianismo reduzido por alguns a uma terapia e a uma almofada psicológica para fugir da realidade para um cristianismo vivo no qual resplandece o mistério da vida, um cristianismo solidamente enraizado no mistério da Páscoa do Senhor.

Peço a Deus que nos ensine a audácia do evangelho e nos dê a força do Seu Espírito para vencer medos e rotinas e para ir ao encontro de todos, dos mais próximos e dos mais distantes, dos mais generosos e dos mais frágeis, cumprindo e realizando este sonho de Deus para a Igreja de Batalha.

Peço a Deus que a todos abençoe e nos inspire caminhos e modos de colocarmos sempre a Igreja de Batalha, fiel ao seu carisma fundador, ao serviço do povo de Deus, para o bem da Cidade e de todos quantos aqui procuram Deus e desejam sentir e conhecer a alma e a matriz cristã da nossa Cidade.

No segundo centenário da conclusão da construção da igreja matriz de São Gonçalo ergue-se nesta praça um lindo cenário. Desde 1814 lá no alto parece ser a ponta do compasso que risca nos horizontes distantes o círculo da grandeza de um povo, que aqui chegou quando aqui não era nada. Hoje nesta alegre e colorida festa quando o povo religioso da cidade acorre para agradecer a Deus a vida da Igreja batalhense este marco se torna a torre pontiaguda de imaginária catedral a bimbalhar místicos sinos de louvor e de aleluias, torna-se o ponteiro do infinito espantando as nuvens vadias faz o olhar humano alcançar a cerúlea beleza do céu!

Os que passam lá baixo pelo negrume do asfalto, ou mesmo os viajantes que se alongam em viagens ao transitar o espaço destas ruas e praças em torno dessa igreja vendo-a podem erguer o pensamento para o coração de Deus. È aqui no adro desta igreja bicentenária, feita de gente, não de pedra, que nos reunimos igreja bicentenária ao redor do pastor maior: Cristo Jesus, para lhe com a voz exultante do salmista: “Quão imensos, Senhor, os teus feitos, Maravilhas fizeste por nós”.

Que São Gonçalo aqui do alto desta colina, magnânima arquitetura divina, de sua casa de clemência e bondade nos ajude nos abençoando e nos conduzindo pelos caminhos que nos levam ao céu, por mais 200 anos!

Eu bato palmas, muito feliz. Gosto de São Gonçalo. Sou apaixonado pela sua igreja matriz, parabéns velha matriz!

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!

Foto: Antonio Lauro