Crônica de Pe. Leonardo de Sales – Professores, o que comemorar?

Pelas escolas de nossa querida Batalha já passaram professoras e professores, nomes que merecem não só a nossa gratidão, como a nossa memória. São professoras e professores, cuja homenagem deve transcender a uma simples recordação, motivada pela passagem de uma data cívica, como a que hoje comemoramos.

Quem não se recorda de nomes como: Professora Matildes, que guiou por anos a fio, a Unidade Escolar Gayoso e Almendra? De dona Maria do Carmo Melo, com sua enorme autoridade moral, a fazer “borrar as calças” os meninos metidos a valente.

Saudade de dona Maricota, um general disfarçado de diretora; que no 1º dia de aula repetida sempre este discurso: “quero todos trajando camisa branca de mangas curtas (com o escudo da escola no bolso), calças também curtas (de tergal) ou saias azul-marinho.”

Não esqueceremos as meias brancas e os inesquecíveis e confortáveis sapatos “conga” ou sapatos preto tipo colegial, nos pés. Ficávamos todos na fila, e antes de entrar cantávamos o Hino Nacional e o Hino de Piauí. Durante a Semana da Pátria era pior! Porque além dos dois hinos já citados, cantávamos também: O Hino da Bandeira, o Hino da Proclamação da Republica e o Hino da Independência do Brasil! Cabeça erguida, postura ereta, mãozinhas em cima do peito esquerdo e a cantar em altos brados todos os Hinos possíveis e imagináveis… Era uma espécie de lavagem cerebral em tempos de ditadura para alguns e início da reabertura política para outros.

Segue uma lista que poderia ser maior, recordo só alguns nomes desse elenco que é bem maior. Como esquecer dona Anaídes que além de alfabetizadora, transportava para o catecismo legiões de meninos e meninas que além da velha tabuada deveriam também decorar rezas e hinos; quem não se recorda da Professora Nazita a divagar pela Avenida Getúlio Vargas, com sua impecável blusa branca, de Maria do Carmo do Cafezinho, cujo olhar fulminante era capaz de com um “rabo de olho’ descobrir quem estava “pescando”, estas três últimas de saudosa memória.

Recordo-me do Professor Geraldo Vieira, com sua capacidade e rigidez nos explicando os cálculos matemáticos das raízes quadradas e nos metendo medo no dia da prova; do Professor Cristóvão, com sua capacidade, e paciência que mais nos recordava um monge, talvez resquícios de sua rápida passagem pelo seminário; da pontualidade da Professora Camélia, desfraldando o mundo da Geografia, da elegância da Professora Leonina, cujas aulas valiam mais pela elegância que pelos conteúdos ministrados; da inteligência impa e autodidata de José Nicodemos da Rocha, que me recordo muito vagamente, com sua calça modelo pantalona, ensinando a conjugar o verbo “to be,” da Professora Floripes, passeando pelo mundo do conhecimento com os poucos recursos que dispunha: um livro e um pedaço de giz branco.

Como esquecer a capacidade da Professora Socorro Souza, sobrevoando com maestria o mundo infinito da Língua Portuguesa, sem nunca demonstrar o coração ferido e magoado em meio a tantas separações matrimoniais com o Messias.

Guardo vivo na memória a minha primeira professora e, também madrinha de Batismo, Isolete Dutra no Pré-Escolar na Escola Visconde Sabugosa, que com paciência com sua mão sobre a minha me ensinou o traçado das primeiras letras, não posso esquecer também Isaurinha Bezerra, que com insistência de um comerciante me fazia decorar a velha tabuada. Hoje quando vêm muito vivo na minha memória aquela professora de saia longa e com pregas, blusa branca de mangas curtas, imperiosa com uma régua na mão transmitindo matemática a uma menina igualmente vestida, na eterna capa da tabuada, não tenho como não me transportar para a figura física de Isaurinha Bezerra.

Da professora “Pretinha”, guardo vivo no meu coração a ternura do ensino, que nos cativava logo no primeiro dia, depois Professora Remédios, Julia, e tantos nomes que o coração não esquece. Professor Careca, Opa, etc., muito obrigado pela seriedade na transmissão do conhecimento!

“Educar é uma obra de Amor!”, disse alguém com muita propriedade. Porém, valorizar aqueles cuja responsabilidade é educar pessoas deve ser também uma obra de amor ainda maior. Porém, esta crônica seria incompleta se não me desse conta que para além da saudade de tempos idos temos um presente desafiador.

Quis aqui brevemente recordar com gratidão uma série de pessoas que contribuíram para a Educação em Batalha, que marcaram épocas, que simplesmente não passaram por uma sala de aula, mas contagiaram estudantes, formaram pessoas, transmitiram valores, propuseram um mundo melhor, que só seria alcançado pela via do saber, do estudo e do empenho nas grandes causas. O limite dessa recordação se encontra na constatação de uma realidade que vergonhosamente insiste em perdurar em nosso país e de maneira ainda mais visível me nossa Batalha.

Ao constatar isso, tenho a certeza que os professores não têm muito que comemorar. Baixos salários, jornadas estafantes de trabalho, alunos que se rebelam contra uma política educacional e um sistema que não foi implementado através de debates com a comunidade escolar.Violência contra os professores, alunos desinteressados, uma política salarial com cotas de miséria, como se ter os direitos respeitados fosse sinônimo de portar um pires a mendigar esmolas! Bem demonstra isto os reajustes atrasados, e uma administração que já nos primeiros meses de governo deu sinais de que a Educação não seria uma prioridade, cuja gestão anda de costas para não deparar-se com a própria sombra,pois está poderia pedir lhe contas do descaso com que andam as coisas.

Muitos professores fazem parte de um sindicato que não consegue impor ou fazer com que as reivindicações da categoria sejam a pauta principal do discurso político da atual gestão, um sindicato – constantemente seduzido (ainda que não tenha cedido) pelas elites políticas locais e que espero que não seja afundado numa disputa interna de grupos políticos que se autodenominam correntes sindicais.Muitos professores se sentem abandonados, cansados de não ver os frutos da luta. Pelas manifestações recentes, que tenho acompanhado há ainda muitos professores que não despertaram para uma consciência política mais aguçada capaz de fazer com que percebam que a política está além do bipartidarismo familiar reinante na terra de São Gonçalo.

As últimas discussões envolvendo a Câmara de Vereadores, Prefeitura e Sindicato demonstrou que politicamente estão todos atolados. Não conseguem sair do lugar.

Nossa gratidão a vocês professores que já entenderam que o mestre verdadeiro é aquele que transmite conhecimento e pauta a sua vida pelos valores que perduram; obrigado a você que acorda cedo mesmo não tendo recebido com justiça o seu salário no mês anterior, e que talvez nem no atual, pois com isto acredita está contribuindo para que janelas e portas se abram na consciência de crianças e jovens que simplesmente não são seus “alunos” serão cidadãos do mundo que passam pela sua competência, que poderão ser os homens e mulheres que guiaram uma nova sociedade!

Obrigado a você professor que vence distâncias, no ir e vir do seu cotidiano semeando o conhecimento, educando para a Justiça e para o respeito, mesmo não sendo valorizado você segue adiante qual teimoso sonhador, pois acredita em dias melhores!

Obrigado professor pela sua enorme contribuição social para o desenvolvimento de nossa cidade! A sua teimosia tem cheiro de novidade, mesmo sendo sugado quando não lhes pagam com Justiça, ou mesmo quando num projeto diabólico querem lhe oprimir ou perseguir politicamente!

Obrigado a você porque a história quando for contado com Justiça fará menção ao seu nome que hoje esquecido, é fundamental na memória de tantos alunos que já passaram por sua sala e aula, que você, talvez já esqueceu, porém, nunca serás esquecido por eles!

Por fim obrigado a você professor que se empenha preparando aulas, corrigindo provas noite adentro, mais obrigado, sobretudo, por gostar de ser o que é, não um “Sofressor”, mas como dizia o poeta Castro Alves você é um daqueles que o abolicionista chamava de “Bendito aquele que semeia livros e faz o povo pensar.” Parabéns!

Pe. Leonardo de Sales