Adeus Dona Maria do Sena!

São Pedro, esta mulher miúda, visitada até o seu último respiro pelo sofrimento, de passos lentos que durante anos atravessou a Av. Cel. Messias Melo rumo à sua querida Igreja matriz de São Gonçalo, bochechas róseas e sorriso infantil, que chegou ao céu no alvorecer de 19 de outubro de 2014, é dona Maria Lina de Meneses Fontenele, que para nós será eternamente, a dona Maria do Sr. Sena. Conheci-a desde menino, quando eu com meu “bando”, íamos para as bandas do Riacho Grande, nos tempos do inverno, tomar banho de barragem, sempre que passava por ali, lá estava ela, e me perguntava: “- menino, a sua mãe deixou você ir para o Riacho Grande? Se respondesse positivamente, ela sorria e dizia: tomem cuidado com as águas, elas são traiçoeiras” se respondia negativamente ela orientava a voltarmos para casa.

Acolha-a, são Pedro, como ela sempre recebeu seus filhos, noras, netos e bisnetos, suas amigas que juntas vinham rezar terços e novenas, na sua aconchegante casa, com liberdade e uma bondade tão raramente encontrada nos dias de hoje.

Olhos postos no infinito, tendo no bolso sempre o seu terço, os lábios em movimento, como se mastigasse os pensamentos, assim era dona Maria, pequenina, porém, um gigante na força, basta observarmos com que valentia enfrentou a doença, quando se pensava que ela partiria, dava a volta por cima e, encorajava a todos com a sua capacidade de se refazer.

Dona Maria, São Pedro, foi uma mulher de Fé, desde que me entendo, recordo-me que sua presença era quase um Dogma, sempre assídua ocupando um dos primeiros bancos à esquerda nas fileiras da velha matriz, fita vermelha no pescoço, sinal de sua pertença ao seu amado Apostolado da Oração, associação religiosa que ela fez parte por 30 anos. Sua presença quase obrigatória, em novenas e leilões, era sentida por todos, assim como Isabel, a mãe do profeta João Batista, ela tinha tanto gosto em receber Nossa Senhora em sua residência. Seu Dízimo, amado apóstolo Pedro, foi fielmente devolvido a cada mês, com muita generosidade. Era beata e rezadeira, mas não era triste, entendeu que rezar é a alegria da alma que transparece num sorriso!

Como, São Pedro, abordar um tema habitual como feijão com arroz, mas amargo feito jiló? Como explicar com a leveza de um saco de pipoca doce, sobre a finitude do ser humano? Falo da morte, o que dizer diante dela, procuramos palavras para dizer alguma coisa, sem encontrá-las, o melhor é compreender mesmo que talvez não tenha que ser dito nada.

Caro porteiro do céu, como passará agora as procissões de agosto e de dezembro, sem avistá-la, como serão os natais, os festejos, às semanas santas para os vinte e cinco netos e seis bisnetos, que tem sua genealogia fundada no sangue desta que era a matriarca deste ramo da Família Meneses Fontenele? Com certeza não será fácil, porém, a força e a fé que esta mulher possuía, criam certezas lá onde a dúvida e o medo teimam em dizer a última palavra!

Estive algumas vezes em visita à dona Maria, já doente, percebi que a morte do seu amado esposo Sena, lhe tirou em muito a alegria e a disposição. Quem a conheceu mais de perto, diz que ela não foi mais a mesma. Quero crer que ela contava os dias, para o grande encontro com seu companheiro de longos anos, de cujo amor nascera: Benigna, Socorro, Geraldo, Leides, Raimundo, Antônio Filho, Francisco das Chagas, Maria da Conceição e Miguel, e mais três que agora ela poderá ver junto de Deus, os dois pareciam um par de pombinhos unidos, que amorosamente viveram a Graça do matrimônio, por 60 anos; o que muitos casais vivem hoje como peso e náusea eles viveram com beleza e como sonho de Deus. Talvez, por isso ela partiu ao encontro do seu amado, que há 14 anos, no dia 8 de julho de 2000, partira rumo à eternidade, pois nela transparecia um profundo amor ao seu querido, e para nós inesquecível Sr. Sena.

Transvivenciou, na manhã do domingo, dia da Ressurreição, como viveu: em casa, cercada pelos filhos e parentes, na suavidade do vôo de um pássaro exaurido em seu canto, como o sabiá-laranjeira que gorjeiam de setembro a novembro. Sabia, talvez em seu coração, que seu fim chegara e em secretos pensamentos dizia que a hora demorava a chegar. “São Pedro perdeu minha ficha”, queixava-se, quem sabe!

Dê-lhe prioridade na entrada do céu, São Pedro, pois a dona Maria não esperou a morte. Foi ao encontro dela, como quem traz no coração uma inelutável saudade do Amor eterno. No decurso dos últimos anos aguardou, na cama, que ela viesse buscá-la. Como uma noiva espera o seu noivo; agora São Pedro, faça-lhe a festa de núpcias. Não esqueça que ela, como boa cozinheira que era, gosta de muito arroz no prato e carne de bode assado!

A próxima 1ª sexta-feira será animada no céu: pois com a chegada de dona Maria, que se ajuntará ao Sr. Sena, dona Vicência, dona Anaídes, dona Sinhá Melo,dona Teresinha, dona Antonia Trindade e sua irmã dona Luíza, e aí poderá comemorar dia 17 de novembro, o seu aniversário, eita turma animada, São Pedro!

Vejo-os todos agora nos jardins do céu passeando em companhia uns dos outros. Não posso vê-los de outro jeito, me desculpem os céticos e dogmáticos. Eles, enfim, sabem que, para os irmãos de Jesus, a vida é terna e eterna!

Maior que a dor da perda de dona Maria é a gratidão a Deus pelo dom de uma vida tão plena em dedicação, realizações e fé, e dos frutos que semeou. Dona Maria, dê um abraço no Sr. Sena por mim, e lhe diga que nunca mais vi alguém carregar com tanta elegância uma cruz numa procissão como o via por aqui! Dona Maria até a eternidade!Aos familiares minhas preces!

Pe. Leonardo de Sales.