“Obrigado, Pe. Evandro!” – Novo Artigo do Padre Leonardo

Estou a bordo num voo entre Lisboa e Roma, voltando das férias no Brasil e, uma vontade incontida de escrever alguma coisa me toma de assalto, não resisti, liguei o computador, com o propósito de escrever mais uma crônica, mas sobre o que escrever?
 
Tomado pela inspiração, e vizinho das alturas, onde creio, portanto, perto de Deus, clarearam-se as ideias, quero escrever um texto de gratidão ao querido Pe. Evandro, que se despedirá em breve de nossa Paróquia, de nossa Cidade e de nossa gente batalhense.

Após um ano e cinco meses como vigário paroquial na Paróquia Nossa Senhora do Carmo em Piracuruca, chega para exercer o novo ofício de administrador paroquial da Paróquia São Gonçalo em Batalha, o jovem sacerdote Evandro Alves da Silva, o ano era 2009 e o dia o livro de tombo da velha matriz registra como sendo 07 de fevereiro.

Chegava à terra de São Gonçalo, um jovem sacerdote tímido e sem saber por onde começar, pois o campo era vasto e o trabalho imenso, consciente de seus limitese fraquezas, mas também cheio da pujança de sua juventude, o neo-levita é desafiado por todas as partes, fora nomeado para pastorear uma paróquia histórica, complicada e pobre de recursos, consola o coração do novo pastor a expressão viva da Fé do povo de Deus a ele confiado, pelo pastor dos pastores, Cristo Senhor!

Recebera o encargo de conduzir um rebanho imenso, comunidades pipocantes por todos os lados, distâncias enormes a serem percorridas, grupos, pastorais e movimentos diversos que necessitam ser revitalizados, pobreza dos meios de evangelização, veículo precário, como se deslocar para o serviço às ovelhas espalhadas pela extensão desse imenso rebanho? Perguntava-se o recém chegado padre, as perguntas eram mil, as repostas, zero! Aos poucos o Espírito Santo, vai apontando iniciativas, sugerindo caminhos e iluminando propósitos, não faltara a sua luz na condução de sua missão!

Na sua primeira missa após a sua posse leva um susto ao ver uma igreja às escuras, e com poucos fiéis, era fevereiro, pós-festejo, cidade vazia, povo cansado, ano que se iniciava. Iniciava-se também um novo tempo para a nossa Paróquia.

O dinamismo do jovem padre Evandro começa por tomar conta dos grupos e começam-se os projetos, que aqui seria impossível descrevê-los todos!

Alguns destes saltam aos olhos sem diminuir a importância dos menores, que como vaga-lumes, brilham na escuridão!

A revitalização dos festejos que se inicia aos poucos timidamente, mas anos após anos se ver os resultados que começam a surtir efeitos, a peregrinação da imagem do santo padroeiro para a capital do Estado, emplaca e atrai devotos da colônia batalhense em Teresina, evangeliza, fala de Deus e arrecada recursos para se aplicar na obra evangelizadora, entre elas chama atenção à compra de um novo veículo para a comunidade católica, no valor de quase 100 mil reais à vista, fruto do trabalho quase insistente do padre junto aos fieis.

Sua animaçãoe zelo para com as coisas de Deus, o faz perceber o quanto nosso belo templo necessitava de reparos, sejam artísticos, sejam de infraestrutura, que o leva a iniciar uma campanha pela troca do telhado e forro da igreja matriz, descaracterizada nos pós-Concilio Vaticano II, recupera peças sacras de grande valor artístico e cultural, tais como o retorno do Cristo crucificado, peça barroca, dos primórdios da construção da igreja, autoriza a restauração de imagens, como a do Sagrado Coração de Jesus, que até então se acreditava ser de gesso, o que o restaurador admirado veio a descobrir que se tratava de uma peça rara, do neoclassicismo francês, mandada importar da França pelo centenário Apostolado da Oração, se adquiriu novos vasos sagrados, paramentos e alfaias.

No campo pastoral sua figura se desenha colossal, cria novos grupos, investe maciçamente na evangelização da juventude, cria a novena perpetua de Nossa Senhorado Perpétuo Socorro, que lota o templo às terças-feiras, realiza eventos de grande porte a nível paroquial e diocesano, como por exemplo, a passagem do símbolo da JMJ (Jornada Mundial da Juventude), por Batalha, atraindojovens de todos os lados e legando para a nossa história religiosa recente um evento sem precedentes, incentiva a formação dos leigos; jovens de nossa comunidade, graças ao seu apoio, representam a nossa Paróquia no encontro da juventude com o sucessor de Pedro, naprimeira visita ao Brasil, do Papa Francisco, no Rio de Janeiro, em julho de 2013.

As comunidades rurais ganham novo impulso missionário, a missão continental, assumida no Documento de Aparecida, como uma urgência pastoral de nosso tempo, ganha neste filho de Cocal, uma força enorme, são realizadas diversas missões populares, quer seja na Paróquia ou no zonalsul 2 da diocese de Parnaíba.

A consciência de ser Igreja participativa cresce nas pessoas, que respondem com generosidade, a arrecadação do dízimo nunca cresceu tanto, como nesta gestão paroquial, conduzida pelo Pe. Evandro, a dinamização da equipe e a adesão de novos dizimistas confere novas possibilidades à comunidade, como por exemplo, a isenção de taxas que soavam simonia (venda de serviços sagrados), tais como batismo e casamento.

No campo da comunicação, nova urgência dos tempos modernos, nossa Paróquia encontrou neste pastor dedicado um grande incentivador, cria-se um blog na internet, para divulgação da vida paroquial e difusão também do Evangelho nos novos areópagos!

Apresenta-se como um zeloso sacerdote, defensor das verdades do Evangelho, e dos valores cristãos, e por vezes foi na cidade de Batalha a única voz que se levantou contra os desmandos da velha política local, feita de arranjos desmedidos e pactos espúrios, sua voz em defensa dos pobres, tão ao gosto do Jesus dos Evangelhos, se faz sentir quando as camadas de decisões se contradizem na prática de favoritismos e não fazem da política expressão do bem comum.

Quando a moral e os costumes estavam ameaçados pela falta de bom senso e respeito à fé católica, foi capaz de se indispor falando a verdade aos quatro ventos contra quem quer que fosse, sem medo, certo do apoio de seu rebanho mesmo que muitas caras se virassem contra o senhor vigário!

Durante seu pastoreio ele pode assistir a três primeiras missas de filhos da terra, ordenados sacerdotes para a Igreja de Deus: Pe. Leonardo de Sales, Frei Manoel, e por último Pe. Joaquim Trindade, que graça para um sacerdote, ver outros sacerdotes chegando e se fazendo amigo deles, e ainda encaminhou duasvocações que amadurecem no celeiro de formação, o seminário menor diocesano!

Sua fama é de pedinte, já ouvi de sua boca dizer que não pede nada para si, mais para o bem da comunidade, não se envergonha de fazê-lo, sua transparência no uso dos recursos dos fiéis gera confiança e cria possibilidades de realizar grandes projetos, tais como a restauração total da casa paroquial, totalmente reestruturada, com bom gosto, outra marca do Pe. Evandro; mobília nova sensação de bem estar, pronta para receber o novo padre e digna de acolhida a qualquer autoridade eclesiástica que passe pela Paróquia de São Gonçalo!
O projeto de conclusão do grande jubileu dos 200 anos da construção da Matriz de São Gonçalo, que foi abraçado com grande empenho, o senhor não o concluirá, seria um gesto de grande comunhão que o novo padre o permitisse em dezembro próximo ao menos a sua participação!

Seu estilo meio zangado, às vezes insinua um estilo áspero, porém, uma breve convivência com ele, se percebe a clareza das opções e a objetividade das relações humanas, que devem ser pautadas pela lógica do diálogo e pela transparência no trato com as pessoas! Não quero beatificá-lo, seus limitesos conhecemos, mas suas qualidades superam de longe, os seus defeitos!

Não pretendo nesta crônica esgotar os feitos do pastoreio do Pe. Evandro, ao longo destes cinco anos e seis meses, mas tão somente, provocar na comunidade gestos de gratidão a Deus pela passagem benfazeja deste servo de Deus entre nós, que cada um possa render graças ao Senhor por tudo o que foi feito e pedir perdão a Deus pelo que não ajudou a fazer, e aclamar o Deus das misericórdias pelo que foi capaz de colaborar e ver realizado por iniciativa, coordenação e liderança dele, pois nenhum padre faz nada sozinho, sem a colaboração de seu rebanho, pois por melhor que seja alguém, jamaisconseguirá ser tão bom e eficaz que todos juntos e unidos num só propósito: fazer a Igreja, que é de Cristo, crescer e apressar a vinda de seu Reino!

Tudo tem o seu começo, o seu meio e o seu fim. Embora, Pe. Evandro, o senhor possa dizer com o artista popular: “não aprendi dizer adeus”, é chegada a hora de tirar o seu time de campo e partir para outro lugar!

Lutamos junto ao bispo diocesano para que a sua presença se prolongasse por mais tempo, numa estratégia moderada, ele nos concedeu, mais alguns meses, a dom Alfredo nossa eterna gratidão, por nos ter dado um grande pastor!

Sei que o senhor poderia ter feito mais. O que estava ao alcance foi feito, sempre com muito carinho e zelo, sabemos, porém, dos seus limites, que sempre terminam por ter grande incidência em tudo. O senhor procurou ser bom e amigo, ofereceu a sua amizade a todos, quis ser presença em cada casa das ovelhas ao senhor confiadas, não fez aqui acepção de pessoas, (ricos e pobres, crentes e não crentes) quis enxugar cada lágrima, para todos quis ser o “padre”!

O que o senhor aqui em nossa Paróquia viveu, aprendeu e pode realizar nesse período de pouco mais de cinco anos, nesta cidade acolhedora, deixará marcas profundas na vida dessa comunidade. É a bagagem, feita de gratidão e saudade, que o senhor levará para a Igreja de Esperantina.

No seu coração sacerdotal não leve mágoas de ninguém. Partindo, leve a todos no coração, como gostava de dizer o apóstolo São Paulo.

Com as emoções à flor da pele não podemos deixar de olhar para o alto e dizer: obrigado, nosso Deus, obrigado por este kairós, tempo de Graça, obrigado por estes cinco anos e seis meses do Pe. Evandro entre nós, obrigado por ter-nos feito fazer parte da história dele, de termos ajudado e ensinado a Ele a ser padre, sim, pois foi aqui que aprendeu o que os livros nos seminário não ensinam, ou seja, como pastorear, segundo o coração do Bom Pastor!
 Obrigado Padre, muito obrigado, em nome de tantas pessoas que aí em nossa querida Batalhao senhor pode atender espiritualmente, batizar, interceder, visitar, assistir o matrimônio, se fazer amigo, presidir a Eucaristia, animar a Fé, conduzir belas procissões, encorajar os corações entristecidos pelas mazelas da vida, encomendar os seus entes queridos, louvar, ungir, pregar a Palavra de Deus, e fazê-los apaixonados por Jesus Cristo!
É claro que o senhor poderá voltar outras vezes a Batalha para participar de muitas celebrações,

Quando, passeando pelas ruasde nossa cidade, poderá de novo sentir o cheiro de nossa gente batalhense e batalhadora nas tardes quentes da cidade morena, tomar um cafezinho na casa dos seus mais de 10 mil amigos aqui feitos, ou mesmo notar o perfume das beatas cheirosas na época em que os festejos contagiam toda a cidade, mas nunca mais será a mesma coisa!

Sabemos que o Senhor que o assistiu aqui com o seu Santo Espírito também assistirá, o Pe. Oscar, que a nossa comunidade se prepara para acolher com muita alegria como seu legitimo pastor.

Pe. Evandro mil obrigados ao senhor, pela sua passagem por Batalha, ela deixará marcar eternas entre nós, Deus recompense seu cansaço, suas noites sem dormir, seus anos passados entre nós, seu envelhecimento, seus cabelos brancos adquiridos antes da idade, pelo trabalhão que algumas ovelhas lhe deram, abençoe sua dedicação, sua coragem, enfim tudo o que fez, e que faria novamente com certeza, pela nossa comunidade paroquial.

Seja feliz em sua nova caminhada, seu novo pastoreio, desafiador e emblemático que o aguarda, que o bem aqui feito, seja realizado redobrado na vida das pessoas que o senhor vai encontrar e pastorear, obrigado, obrigado, obrigado, infinitamente!

Sentiremos saudades de suas missas longas, de suas zangas, de seus apelos, de seu jeito, de seus gestos, de sua amizade, o que nos separa são 22 km e um rio, o Longá, e rio foi feito para atravessar, venha sempre esta casa comum, nossa paróquia, é também a sua casa! Foi isto que a nossa Câmara Municipal quis sinalizar ao conferi-lo o título de cidadão batalhense, já deve ter ouvido nas suas andanças pela nossa cidade, que quem bebe da água do velho barro, não deixará Batalha tão facilmente?

Que nosso padroeiro, São Gonçalo, que o senhor aprendeu amar conosco, seja o modelo de coração sacerdotal na nova missão, e que a Senhora de Lourdes, nossa mãe, cuja cidade está a esta hora a seus pés, no encerramento deste que é o seu ultimo festejo como pastor desta Paróquia, festejo a ela dedicado, seja sua mãe e consolo nas horas difíceis!

O meu voo está quase chegando ao fim, mas ainda resta tempo para dizê-lo: “Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a sombra das folhas; se não houver folhas, valeu a intenção da semente”.

Leve em sua bagagem, a certeza de nossa eterna gratidão! Deus o acompanhe, e seja muito feliz!

Pe. Leonardo de Sales.